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Entrevista

Quando a Doutora Sofia Viegas foi admitida para frequentar o Doutoramento no Instituto Karolinska na Suécia como uma das beneficiárias do programa de cooperação entre Moçambique e Suécia para o desenvolvimento da área da pesquisa no país, foi um sonho tornado realidade. Hoje, ela ocupa um lugar de destaque na luta contra a pandemia da COVID-19 em Moçambique.

 

Fale-nos sobre a sua formação académica e profissional.

Iniciei a minha carreira em 2006 no Instituto Nacional de Saúde (INS) de Moçambique, onde coordenei a o Laboratório de Bacteriologia e posteriormente os Laboratórios de Referência da Tuberculose em Moçambique. Em 2015 fui nomeada Chefe de Departamento de Serviços de Referência Laboratorial e recentemente Diretora de Laboratórios de Saúde Pública. Por 4 anos coordenei o programa institucional de infecções respiratórias e também fui membro do Comitê de Ética Institucional do INS, uma excelente oportunidade de ganhar experiência em métodos de pesquisa e ética em pesquisa com seres humanos. Tive também a oportunidade de coordenar o processo de Acreditação do Laboratório Nacional de Referência em TB, o primeiro laboratório acreditado através da ISO 15189 em Moçambique. Também coordenei a elaboração de várias directrizes específicas de laboratório para o país e a Política Nacional de Laboratórios. Participei em diversas pesquisas na área de diagnóstico e também em ensaios clínicos nas áreas de tuberculose e de HIV.

 

Porque optou por fazer o seu Doutoramento na Suécia?

A oportunidade de estudar no Karolinska Institututet, uma das principais universidades médicas do mundo, é um sonho para qualquer investigador da área biomédica em início de carreira. Quando fui selecionada para fazer o mestrado/licentiate e depois o doutoramento, foi uma oportunidade única de crescimento académico e de interacção com outras culturas.

 

Qual foi o tema da sua Pesquisa?

A minha pesquisa foi na área de Epidemiologia Molecular da Tuberculose em Moçambique. A tuberculose é um importante problema de saúde pública em Moçambique. Na altura havia muito pouco conhecimento sobre as linhagens de Mycobacterium tuberculosis, o agente causador da tuberculose em Moçambique. Este estudo permitiu endender melhor a epidemia, a distribuição e circulação da doença em Moçambique, bem como entre os países vizinhos e países com uma relação próxima a Moçambique.

 

Qual foi a sua experiência de vida e estudo na Suécia? Algum choque cultural que teve de superar?

Os meus estudos foram em regime de sandwish, então nunca fiquei muito tempo na Suécia. Passava temporadas lá, para participar dos cursos e realizar parte da componente laboratorial e o restante do tempo passava em Moçambique. As temporadas em Estocolmo representaram uma experiência única de vida, que deixaram muita saudade. A Suécia é um país lindo, historicamente muito rico! Fui muito bem recebida, por todos, pelos colegas da Agência de Saúde Pública da Suécia, pela comunidade Moçambicana residente na Suécia. Fiz amigos e parcerias que vou levar para todo o resto da minha vida!

 

Como é que os seus estudos na Suécia contribuíram para o seu desenvolvimento pessoal e profissional?

Os estudos na Suécia permitiram conhecer culturas diferentes, não apenas suecas, mas de diferentes partes do mundo, sem dúvidas abriram a minha mente e algumas das amizades que fiz lá são minhas parcerias em projectos de pesquisa hoje.

 

Qual é a sua opinião sobre os desafios enfrentados pelas investigadoras em Moçambique.

É verdade que quando se olha, por exemplo para os Investigadores Principais de pesquisas em Moçambique, talvez sejam maioritariamente masculinos, que não seja 50/50, mas a meu ver a mulher tem estado cada vez mais a ocupar lugares de destaque na pesquisa em Moçambique, e em pouco tempo, as estatísticas irão mudar.

 

Fale-nos mais sobre a sua actual função no Instituto Nacional de Laboratórios de Saúde Pública e o seu papel no combate à pandemia da COVID-19 em Moçambique.

Eu actualmente ocupo a posição de Directora Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. As minhas funções incluem, dentre outras:

  • Contribuir para o diagnóstico laboratorial face aos surtos epidémicos.
  • Realizar o controlo de qualidade das análises laboratoriais, através de um sistema de referência laboratorial.
  • Garantir os aspectos de biossegurança afins ao funcionamento dos laboratórios de referência.
  • Gerir a actividade analítica dos laboratórios do INS.
  • Contribuir para o fortalecimento do sistema de qualidade ao nível dos laboratórios do Serviço Nacional de Saúde.
  • Servir de referência laboratorial aos programas de controlo e prevenção de doenças, incluindo as doenças de notificação obrigatória, em instituições públicas e privadas.
  • Efectuar a testagem laboratorial atinente à investigação científica realizada pelo INS.

A primeira função, relacionada ao diagnóstico face a surtos epidémicos ganhou alguma visibilidade actualmente face a pandemia causada pela COVID-19, onde estamos a liderar toda a componente de diagnóstico, mas já vínhamos fazendo para Influenza, cólera, sarampo, tuberculose resistente, dengue, chikungunya e outras doenças de importância em saúde pública.

 

Última atualização 24 jan. 2022, 16.40